Médica Clínica Geral
Médico Dentista
HPA Magazine 11
É uma articulação do corpo humano, na face, que conecta a mandíbula ao crâneo, assegurando as funções motoras essenciais como sorrir, falar e mastigar. Quando esta articulação não se encontra na sua plena funcionalidade pode provocar diversos sintomas, que são subvalorizados pelos pacientes, até ao aparecimento de dor muitas vezes incapacitante.
As causas desta patologia podem ser dentárias (maioritariamente oclusais, sendo esta a forma como os seus dentes se relacionam entre si), existindo ainda os aspetos biopsicossociais e multifatoriais, ilustrando a interação complexa entre mecanismos biológicos (principalmente hormonais e de maior prevalência no sexo feminino), condições e traços psicológicos tais como stress, ansiedade e depressão, condições ambientais tais como macro e microtraumas.
Infelizmente, na maioria dos casos, tratam-se sintomas e não a patologia de base, demonstrando que doentes com disfunções da articulação têm maior frequência e intensidade dos sintomas, apresentando um maior risco de cronicidade da dor.
A manifestação da doença passa por sintomas muitos dispersos:
A dor pode manifestar-se de forma súbita e progressiva. O diagnóstico passa por uma equipa multidisciplinar, onde estão incluídos o Médico Dentista, o Médico de Medicina Geral e Famíliar, o Cirurgião Maxilofacial, e ainda em algumas ocasiões Médico Fisiatra, Fisioterapeutas e Terapeuta da Fala.
A abordagem do Médico Dentista no diagnóstico passa por uma cuidada palpação muscular e da articulação (avaliação dos movimentos de abertura e fecho orofacial), identificação de ruídos articulares, assim como a avaliação da cavidade oral propriamente dita.
Estas avaliações dentárias incluem saúde oral, saúde periodontal, ausências dentárias e reposição de dentes perdidos (sendo a ausência de dentes uma das principais causas de possíveis patologias articulares).
O diagnóstico é principalmente clínico, apoiado numa adequada história clínica, deixando os meios complementares de diagnóstico para situações mais complexas.
A ortopantomografia é considerada a primeira linha de escolha, sendo a Tomografia Axial Computorizada (TAC) e a Ressonância Magnética deixadas para segundo plano, apenas usados nos casos mais severos.
O tratamento da disfunção da articulação temporomandibular é encarado como uma escalada gradual, dividindo-se em Não Invasivos e Invasivos, com a preferência marcada do tratamento Não Invasivo, deixando o Invasivo para situações complexas e de difícil alcance.
Comecemos então pelos Não Invasivos. Numa fase inicial, a elaboração de um dispositivo realizado em CAD/CAM, personalizado e confeccionado pelo Médico Dentista, com o objetivo funcional de relaxamento da própria articulação e suas estruturas associadas, sendo este dispositivo comumente designado por Goteira. Juntamente com o uso da Goteira, o tratamento é feito em associação com fármacos analgésicos e antinflamatórios, considerando-se ainda a medicação antidepressiva e antiepiléptica com efeitos na dor neuropática. No que diz respeito à Fisiatria/Fisioterapia são estabelecidos planos de tratamentos dirigidos à descompressão, relaxamento e mobilização da articulação.
Este tratamento direcionado tem como principais objetivos a diminuição da dor da articulação temporomandibular; aumentar a sua função; prevenir mais complicações e ainda melhorar a qualidade de vida.
A Cirurgia Ortognática ou cirurgia da articulação temporomandibular é reservada a casos muito específicos.
Em suma, o objetivo primordial passa pelo alerta face a um desconhecimento e desvalorização desta patologia, que leva a uma polimedicação e a falsos diagnósticos, em que o fator tempo é fulcral para a evição da cronicidade.